sábado, 12 de janeiro de 2008

Foz do Rio São Francisco - 28/01/2008

Acordamos, naquela segunda-feira dia 28 de Janeiro de 2008, com muita chuva. Passaram-se 5 semanas. 33 dias. Uma longa viagem. Após todo esse percurso, a dificuldade final. Andando na chuva forte, nos dirigimos até o cais. O nosso pescador não estava lá. Após alguns minutos aparece um pescador. Não iria para a foz. Depois de um tempo, aparece outro. Disse-me que nos levariam, só que mais tarde. Esperamos quase a manhã toda. O terceiro pescador não foi muito amistoso. Disse-nos que não garantia nos levar. Já era quase meio dia. Estávamos ali desde as 08h00. Comecei a conversar com alguns pescadores. Um deles me disse que o melhor era sempre conversar com quem era de confiança, como ele mesmo se auto-afirmava. Contou que um caroneiro foi e nunca voltou. Ai, em seguida, foi falar com outro cara e, de repente, tínhamos uma carona até Barra, um povoado no lado de Sergipe, com um cara ponta firme. Dali, teríamos que nos virar para ir para Alagoas, onde estão as belas dunas. Aceitei. No mesmo instante, o pescador do começo da manhã aparece. Fomos com ele. Estavam com mais dois colegas, 7 passageiros e nós dois caroneiros. Nossa primeira carona de barco.

Última carona, de barco, até a foz.

O rio estava tão seco e açoriado, que não circulavam mais barcos e a população preferia utilizar os carros, pois era mais econômico para todos. O pescador deixou a todos em Barra e nos levou até Alagoas. Sua dicção era muito ruim. Eu mal entendia o que ele dizia. Mesmo assim, nossa comunicação foi muito boa. Durante a travessia, contou-no de "mãozinha", um vendedor de artesanato que ficava ali nas dunas. Eles nos levaria de volta. Em Alagoas, mãozinha não havia ido trabalhar. Então, uma vendedora nos ofereceu carona. O pescador ficou aliviado e foi embora, de baixo de muita gratidão de nossa parte.

Conseguimos!

Por conta de uma exigência do IBAMA, as dunas podem receber visita apenas por 1h30 dos turistas. Naquele momento, a última leva deles ficaria por mais 20 minutos. Foi o tempo de subir as dunas, relaxar, comer um bolo e uma maçã, contemplar a paisagem, agradecer a Deus pela viagem, rever todo o percurso, ter muitos pensamentos e sensações, sentir gratidão no coração, entrar no rio e sair de alma lavada.


Vídeo em uma das dunas, ali na foz do São Francisco.

Foi simplesmente incrível chegar até ali. Uma coisa mágica. Praticamente 3000km (2830km, para ser mais preciso). Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas. Muita coisa boa aconteceu nessa viagem. Depois que me deixei levar pelo fluxo do rio, perece que tudo se manifestava como magia. Era lindo o que víamos. Beija-flores, árvores, águas correndo, pôr-do-sol, cachoeiras, animais silvestres, pedras, festas populares, pessoas boas, auxílio no momento certo, bons fluidos. Foi tudo muito bom. Uma viagem inesquecível. Aos poucos, eu fui relaxando e deixando para trás o habito paulistano. Passei a ter outro ritmo. Tempo de serenidade. Paz. Paciência e esperança. Eu ali, olhando aquele rio lindo, com suas águas calmas, desembocando no mar, com suas águas furiosas. Ali, no mar, havia um farol. A cidade de Sergipe fora inundada pelo mar. As dunas eram misteriosas. Um silêncio denso no ar. Senti a paz no coração e muita gratidão. Finalmente consegui o que estava buscando: a paz e a harmonia com Deus. Depois do banho nas águas do rio (que ao longo deve vi receber toneladas de sujeira - o que me deu certo nojo), o moça do artesanato nos chamou. Seu barco já haviam três pessoas. Disse-nos que o outro rapaz nos levava. Deu-nos mangas deliciosas para comer e insistiu no fato de que daria carona se não houvesse outro barco ali.


Do lado direito, Sergipe. Do esquerdo, Alagoas. Ao fundo, chuva no mar, bem no encontro das águas do rio.

O barqueiro era um fiscal. Ele controlava o respeito à regra do IBAMA. Navegou alguns metros rio acima e parou em um manguezal. Queria nos mostrar outros lugares. Dizia que era para poucos privilegiados. Conduziu-nos às mais altas dunas da região. Do topo, via-se o mar, a foz, o rio, as dunas, a floresta, Piaçabuçu e até Penedo. Simplesmente lindo. Senti muita paz naquele lugar. Contou-nos que, ao enfrentar algum problema, ia visitar o "escritório", para contemplar o encontro do mar com o rio. Sentou-se e ficou olhando aquela paisagem. Ensinou-nos sobre os cajueiros. Comemos alguns deles. Até que nos mostrou um cajueiro solitário, desgarrado do bando. Aquele era o símbolo da vida, segundo ele. A árvore não crescia mais do que aquilo (era pequena). No entanto, não desistia. Aquilo era uma lição de persistência e de como devemos ter nossas atitudes em nossas vidas.

O pequeno cajueiro.

Também nos falou sobre o espírito. Foram palavras simples, porém complexas. Meditei dias sobre tudo aquilo. Pegou um atalho diferente para voltar à cidade. Passou por um vilarejo e por canais de mangue. Senti uma serenidade indescritível. Falava-nos sobre os caranguejos. O silêncio falava por nós. Por fim, parou na casa de um conhecido, na beira do rio. Pegamos algumas mangas de várias variedades. Voltamos para a cidade e nos despedimos dele. Tudo o que aconteceu, considero como um presente. Um sinal da aliança de um ser humano com a bondade de Deus.

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